Livro Cine Subaé: resenhas, análises e impressões de Caetano sobre cinema, música e desenvolvimento intelectual.
Se não fosse músico, é bem possível que Caetano Veloso tivesse se tornado um cineasta. Desde tenra idade, o cinema o encantava. Na juventude, ele já redigia sobre os filmes vistos no Cine Teatro Subaé, em Santo Amaro, sua terra natal. Não é exagero dizer que toda a sua obra musical é, de certa maneira, influenciada pela sétima arte.
As influências do cinema podem ser percebidas em diversos aspectos da carreira de Caetano Veloso. Sua criatividade como cineasta da música o destaca como um dos artistas mais inovadores da música popular brasileira. A genialidade do cineasta se mistura à sensibilidade do artista, resultando em um legado marcado pela fusão entre arte e cinema.
Explorando a Paixão de Caetano pelo Cinema
Mas foi necessário o livro Cine Subaé: Escritos sobre cinema (1960-2023) para revelar o quão íntima é a relação de Caetano com a sétima arte. Lançada pela Companhia das Letras e organizada por Cláudio Leal e Rodrigo Sombra, a obra reúne os escritos do cantor e compositor sobre os filmes e diretores que deixaram uma marca indelével em sua formação como artista.
Como cinéfilo, Caetano se envolveu nas sessões do Subaé – nome em homenagem ao rio que atravessa Santo Amaro. Apesar da poesia e da música serem os pilares de sua produção artística e intelectual, os filmes desempenharam um papel crucial em seu estilo de compor canções e conceber visualmente seus espetáculos, afirmam Leal e Sombra. Caetano até cogitou seguir carreira como crítico de cinema.
Os textos da década de 1960 viram a luz originalmente em publicações como o Archote, de Santo Amaro, e periódicos de Salvador. O músico descreve esses escritos como ‘tateantes’. ‘Mas meu entusiasmo pelo cinema me impelia a correr o risco do ridículo e a produzir críticas com um mínimo de desenvolvimento intelectual’, compartilha o compositor na encantadora introdução de Cine Subaé. A maioria dos textos daquela época permanece inédita em formato de livro – 46 dos 64 artigos nunca foram compilados anteriormente pelo músico.
Em suas entrevistas, o compositor concordou com a visão geral de que sua incursão na crítica cinematográfica ficou no passado. No entanto, após seu período concentrado entre os 18 e os 21 anos em Salvador, ele não mais se identificou nem foi reconhecido como um crítico de filmes, afirmam os organizadores do livro. ‘Seu reencontro com o cinema se deu por outros meios.’ Caetano compôs trilhas sonoras, atuou e ‘interpretou a si mesmo’ em obras de Cacá Diegues e dos cineastas espanhóis Carlos Saura e Pedro Almodóvar. Em 1986, ele realizou seu antigo desejo de dirigir seu próprio longa-metragem, o filme-ensaio O cinema falado.
Essa coletânea desafia a própria crença do autor de que abandonou a crítica ao longo de sua trajetória, defendem os organizadores. ‘Analisando a tradição, Caetano ocupou uma posição única na história da música brasileira e do cinema após o tropicalismo, influenciando diretamente o desenvolvimento de ideias e linguagens de diversos cineastas’. Cine Subaé apresenta ainda 12 entrevistas, depoimentos e 76 fragmentos de opiniões sobre filmes e cineastas, revelando as preferências, reflexões e o vasto repertório cinematográfico do compositor.
É perceptível o impacto que o cinema novo, as grandes produções americanas, o neorrealismo italiano e a nouvelle vague francesa tiveram em Caetano. O músico testemunhou todos esses movimentos — o jovem aspirante a compositor vivenciou verdadeiramente a era mais revolucionária do cinema. Com 440 páginas, o livro está disponível por R$ 129,90. ‘Eu desejava ir ao cinema todas as noites. O som do gongo que antecedia o escurecimento das luzes tinha um significado sagrado’, relata Caetano.
Fonte: @ NEO FEED
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