Tema de um baile: “The Glass Garden” de JG Ballard (1962), ambiente: jardim de flores translúcidas que manipulam o tempo. Prada, cristalina de flores, tempo extenso, jardim murado, multidão furiosa, chicotes, história, visão de catolicismo, mecânica reprodução, apartamentos luxuosos, fechado condomínio, França, sul.
Uma vez ao ano, na primeira segunda-feira de maio, os degraus luxuosos do Metropolitan Museum of Art de Nova York (‘o Met’) se transformam no palco da festa a fantasia mais analisada do ano. O código de vestimenta que desafia todos os códigos, ao longo dos anos, o tema do Met Gala explorou temas elevados, como as relações internacionais do Oriente para o Ocidente (‘China: Através do Espelho’, 2015), a história visual do catolicismo (‘Corpos Celestiais: Moda e a Imaginação Católica’, 2018) ou até mesmo o valor da arte na era da reprodução mecânica (‘Manus x Machina: Moda na Era da Tecnologia’, 2016). Este ano, Andrew Bolton, curador-chefe do museu de moda do Met, The Costume Institute, desafiou os convidados célebres a se inspirarem nas palavras de um dos mais renomados escritores de ficção científica: JG Ballard. Em fevereiro, o Met revelou a narrativa de Ballard de 1962, ‘O Jardim do Tempo’, como o próximo tema da noite.
Acompanhando a exposição principal, intitulada ‘Belas Adormecidas: Renascimento da Moda’, com peças do acervo do Costume Institute que abrangem quatro séculos, a furiosa multidão aguarda para adentrar esse terreno cercado de imaginação e estilo. O espírito de Ballard paira sobre o evento, transformando a cripta da moda em um vasto jardim de possibilidades criativas. A noite promete ser uma celebração única, onde cada convidado poderá florir sua interpretação pessoal do universo de JG Ballard, mostrando como a moda pode ser muito mais que simples tecidos e costuras.
JG Ballard: Influência na Moda e na Cultura
Muitas das peças de vestuário são tão delicadas que já não podem ser tocadas – e muito menos usadas – sem o equipamento de conservação adequado. Bolton descreve-o como ‘uma ode à natureza e à poética emocional da moda’.
O Jardim do Tempo de JG Ballard
No ‘Jardim do Tempo’, o Conde Axel e sua esposa vivem em uma grande villa palladiana com uma extensa propriedade murada. Um prado cristalino de ‘flores do tempo’ semelhantes a vidro brota por todo o terreno, enquanto no horizonte, ao longe, uma multidão furiosa empunhando chicotes se aproxima cada vez mais da vila do conde. Todos os dias Axel colhe a cabeça de uma flor do tempo, retrocedendo as horas e revertendo o avanço da multidão colina acima até que todas as flores acabem – uma inevitabilidade que paira nas poucas páginas da história. Finalmente, a multidão invade o muro, apenas para encontrar uma villa em ruínas e duas estátuas de pedra à imagem do Conde e da Condessa, refletindo a decadência e a fragilidade da história, em consonância com o tema de ‘Belas Adormecidas’.
O Mundo Vasto e Furioso de JG Ballard
Desde a década de 1950, o falecido autor britânico – falecido em 2009 – construiu uma obra centrada quase exclusivamente na catástrofe distópica, na violência desenfreada e na dissolução da psique burguesa. Quer o cenário seja um luxuoso complexo de apartamentos ou um afluente condomínio fechado no sul de França, a tese de Ballard permanece a mesma: o brilho brilhante da vida da classe média alta nada mais é do que um verniz fino, a poucos segundos de rachar.
Mesmo que você não reconheça o nome dele, é provável que já tenha se deparado com as reflexões enervantes de Ballard sobre a psicologia humana. Por exemplo, se você assistiu ao filme ‘Império do Sol’, de Steven Spielberg, de 1987, baseado no romance de Ballard de 1984, que ficcionaliza sua própria experiência quando criança em um campo de internamento chinês durante a Segunda Guerra Mundial. Ou a adaptação de 1996 de David Cronenberg do romance do escritor de 1974, ‘Crash’ – que segue um grupo de pessoas sexualmente excitadas por colisões de automóveis – que foi recebida com vaias e saídas antecipadas quando estreou no Festival de Cinema de Cannes.
Mas não foi apenas o filme que foi diretamente inspirado em Ballard. A sua visão do mundo infiltrou-se na arte, na música, na arquitectura e na moda, talvez de forma mais consistente do que qualquer outro autor do século XX.
Os designers de moda, em particular, há muito tempo são compelidos pela visão ballardiana. Em 2021, a passarela primavera-verão do estilista americano Thom Browne na New York Fashion Week também imaginou a vida atrás do muro do jardim do Conde Axel. Browne evoca a imagem final dos aristocratas de pedra da história.
Fonte: @ CNN Brasil
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