Decisões motivadas pelo medo podem materializar piores expectativas no mercado financeiro mundial.
Uma semana após a Black Monday, que abalou o mercado financeiro global, surgem algumas reflexões sobre suas causas e possíveis motivos por trás desse cenário de pânico. O gatilho para a venda massiva de ativos, conhecida como sell off, foi o aumento das taxas de juros pelo Banco Central japonês, tornando as operações de carry trade mais onerosas para os investidores.
O Crash de 1987, também conhecido como Segunda-feira negra, deixou marcas profundas no mercado financeiro, levando a uma análise minuciosa dos fatores que desencadearam essa crise. A volatilidade e o impacto das decisões do Banco Central japonês foram cruciais para desencadear a histeria que se seguiu no cenário econômico global.
Black Monday: O Pânico Financeiro Mundial de 1987
Ocorre que após um longuíssimo período de taxas entre o negativo e zero, o Banco Central japonês elevou os juros em 0,25% ao ano, desencadeando um movimento no mercado financeiro mundial. A valorização da moeda japonesa frente ao dólar resultou em prejuízo para os investidores, que se viram obrigados a encerrar suas posições.
Por este relato, a não ser que existisse uma montanha de operações de carry trade em moeda japonesa, o que até agora não parece ser verdade, poderíamos apontar o desmonte do carry trade como a causa do tombo. Mas a rápida recuperação ajuda a provar que não é por aí.
Passa-se então para o segundo motivo amplamente ventilado, qual seja, o medo de que os EUA estivessem entrando em uma recessão. Ou seja, o derretimento do mercado japonês seria um gatilho que teria arrastado os demais mercados. Os dados que vêm sendo divulgados sobre a economia americana, contudo, não parecem avalizar tal cenário.
Nas últimas semanas foram publicados relatórios que indicam que a taxa de desemprego vem subindo – atingindo em julho 4,3%, crescimento de 0,2% em um mês – a criação de empregos vem diminuindo e que a inadimplência em cartão de crédito vem subindo vagarosamente. Os dados são todos negativos, não há dúvida.
Mas quem esperaria que após mais de dois anos de ciclo de aperto monetário, sendo que mais de 12 meses com taxa de juros básica acima de 5% ao ano, a economia americana não começaria a esfriar? Afinal de contas, para que o FED vem mantendo as taxas de juros em patamares tão elevados? Não seria para frear a demanda, reduzir a pressão sobre os preços e levar a inflação para a meta de 2%?
Já faz alguns meses que a discussão sobre quando o FED iniciaria a flexibilização da política monetária (nome bonito para começar a reduzir os juros), vem tomando conta das mesas do mercado. O debate, em geral, tem estado centrado no quando isto ocorreria e na magnitude da acomodação da economia.
Traduzindo, alguns apostavam que seria possível levar a inflação à meta por meio de uma desaceleração suave (soft landing) enquanto outros não acreditavam nesta tese e temiam um movimento mais brusco (hard landing). O ponto central é: ninguém parecia achar possível que a inflação voltasse ao prumo sem algum nível de desaceleração da economia.
E o melhor cenário sempre foi o soft landing. Alguém pode argumentar que o que esteve por trás deste sell off foi o medo de que a recessão seja mais severa, que esteja vindo por aí um hard landing. Porém, os dados aqui citados não avalizam esta apreensão toda. O que se pode ler das informações é que talvez estejamos iniciando o tal pouso suave.
Lembrando que este é o melhor cenário. O fato é que, apesar de fracos, os ruídos vindos do Japão e da economia americana, foram suficientes para pôr o mercado em polvorosa. De fato, a única coisa que podemos afirmar hoje, olhando para a gangorra da semana passada, é que o mercado está ansioso, que seus participantes estão apreensivos.
O que se viu na última semana foi uma cena de faroeste em que cada um tentava se proteger do impacto da Black Monday; e da onda vendedora que tomou conta do mercado. A histeria se espalhou rapidamente, levando a um sell off generalizado. A incerteza pairava no ar, e a sensação de pânico se instalou entre os investidores.
A Black Monday; de 1987 permanece como um marco na história do mercado financeiro, lembrando a todos os participantes a importância de estar preparado para lidar com as oscilações bruscas e imprevisíveis que podem ocorrer a qualquer momento. A onda vendedora que se seguiu àquele dia fatídico serviu como um lembrete de que o mercado pode ser implacável e que é fundamental manter a calma e a racionalidade em meio à turbulência.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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